No final dos anos 50, a União Soviética planejou incrementar a sua produção agrícola nas repúblicas do Uzbequistão e Cazaquistão, transformando as áridas estepes da Ásia Central em férteis campos de algodão, visando exportação.
Brasão da União Soviética
Para isto, fez uma pergunta que mostrou-se desastrosa: "O que traz mais benefícios econômicos, desviar os dois principais rios que desaguam na Mar de Aral para irrigação de plantações de algodão ou a atividade pesqueira e de lazer em suas margens ?"
A resposta dos tecnocratas do Planejamento Central foi que o metro cúbico de água desviado para a cultura de algodão seria mais rentável do que o metro cúbico de água despejado no Mar de Aral, mesmo que este desvio causasse a diminuição drástica daquele que na época era o quarto maior mar interior do planeta, com uma área de 68.000 km2, comparável ao tamanho do Uruguai.
Foto de 1997, com a linha vermelha sinalizando os limites originais do Mar de Aral
E foi com estes cálculos em mãos que começou um grande projeto de desvio das águas dos rios Amu Darya e Syr Darya para irrigar as plantações uzbeques e cazaques.
Amu Darya e Syr Darya, os 2 rios que tiveram suas águas desviadas
A princípio o projeto foi muito bem sucedido, e o Uzbequistão multiplicou sua produção agrícola, tornando-se rapidamente o terceiro maior produtor mundial de algodão.
Pilhas de Algodão no Uzbequistão
Os soviéticos viam mais valor no algodão que no Mar de Aral
Porém, a ampliação de canais foi feita de forma indevida, permitindo grande evaporação e vazamentos, causando o primeiro ECOCÍDIO consciente da história.
A água a muito tempo desapareceu
A algumas décadas, toda esta região mostrada nesta foto estava debaixo da água
Barcos e mais barcos permanecem apodrecendo no que um dia foram as margens do Aral
Desolação e aridez
O que os tecnocratas de Moscou previram foi que o Aral diminuiria progressivamente de tamanho, mas sem causar grandes danos climáticos ou à população. O tempo mostrou que eles não poderiam estar mais errados.
O que antes era o leito do mar transformou-se em um grande deserto de sal com altíssima concentração de pesticidas, que causam vários tipos de problemas para a população que vive na região, e a pouca água que resta tem concentrações impensáveis de Sal.
O que resta do Aral tem uma concentração de Sal muitas vezes maior que o original
O que antes era um grandeMar agora resume-se a um conjunto de lagos
Apenas uma das 24 espécies de peixes que viviam em suas águas pode ser raramente encontrada, e das 173 espécies animais de suas margens restam apenas 38.
Os peixes do Aral hoje só podem ser vistos em museus.
O clima também foi muito afetado. Devido a ausência da água, uma reguladora natural da temperatura, as médias do verão aumentaram 1,5 graus, e no inverno diminuíram na mesma proporção. Isto causa uma demanda adicional por água para as culturas, que contribuem ainda mais para o esvaziamento do Aral, e por outro lado diminuíram o ciclo de plantação, diminuindo a produtividade.
Aral, o mar que virou deserto
Hoje os danos são tão grandes que não há mais esperanças para o Mar de Aral. Basta comparar as fotos de satélites tiradas ao longo das últimas décadas para ter um idéia do avanço da desertificação do Mar de onde eram tiradas mais de 48.000 toneladas anuais de pescado, e que desde 1982 é inexistente.
Comparando fotos de satélite de 2006 e 2009
Percebe-se a impressionante desertificação que ocorreu em apenas 3 anos
Que esta tragédia sirva de lição para os países que continuam buscando o desenvolvimento econômico sem pensar nos danos ao meio ambiente, como a China, Índia, Brasil e alguns países africanos. No fim, a natureza sempre cobra suas dívidas com juros...
Aral, um Mar de Areia e Sal
Saiba mais sobre o Mar de Aral e sua morte anunciada em...
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